Uma coisa que sempre me fascinou em qualquer mídia que eu consuma (músicas, livros, filmes...) foi saber que história houve por trás daquilo, no processo de criação ou a motivação para aquilo. Eu sei, sou muito estranho. O fato é que fiquei meio encabulado com o que moveu aquela espécie de “biografia” envolta em ficção, por assim dizer, da nossa diva Diane Bergher.
"O resumo da ópera é que nunca me senti tão diferente como agora. No início, foi confuso, não conseguia interpretar corretamente o que meu corpo ansiava. Com o passar dos dias e dos meses, percebi que não dava mais para lutar contra algo tão forte quanto a fibromialgia." (Diane Bergher - 22º Capítulo).
A obra trata da jornada de Clarisse, pega de surpresa em uma das suas melhores fases da vida pela fibromialgia. Como vocês puderam ler no maravilhoso post da Tainara (clique aqui se não tiver lido, e conheça mais sobre a doença), descobrir estar com essa patologia é um choque, assim como é saber que isso acontece no dia a dia de várias outras pessoas. Pela primeira vez, eu li um livro onde a doença não era “romantizada”, e onde a gente observa a dor da personagem e sente as emoções juntamente com ela.
Ensaios de Borboletas, previsivelmente (de uma forma boa, por favor!), traz dentre vários outros temas uma superação lenta, dramática e carregada de borboletas na janela do quarto da forte e silenciosa Clarisse — inclusive, bem no início, Miguel (o psiquiatra gato da história) a chama de borboleta, pois ela não queria contar seu nome, e aliás, quase nada.
Eu poderia dizer várias e várias coisas, além de não poupar elogios a Desirée pelo modo lindo, equilibrado e muito estudado de como ela conta essa história, e bem, acabei de fazê-lo, mas a questão mesmo é que eu aprendi muitas coisas com os seus 25 capítulos, além de é claro, ficar babando para a nossa Borboleta se juntar ao Miguel — gente, esse casal já é um shipp do coração, meu Deus! Ah, uma das melhores lições, lá do início do livro, é sobre qualidades e defeitos: “o único defeito é o excesso ou a falta. Enquanto se tem um equilíbrio, são sim, qualidades”, eu não preciso dizer que já me apaixonei por tudo aí, não é?!
Falando um pouco mais da história, os capítulos narram as sessões de fisioterapia de Clarissa, nas mais marcantes, existem pequenos trechinhos logo no início, da própria Diane, falando sobre sua dor emocional em relação a doença, ou nos mais altruístas, sobre superação ou a sua vontade de vencer o sofrimento. "Ser criativo é olhar para seu reflexo e ver mais do que uma doença. Somos humanos e humanos podem adoecer é se permitir fazer as coisas que você gosta e quando quer, sem se amarrar em opiniões e convenções." (Diane Bergher - 10º Capítulo).
Nossa borboleta, Clarissa, é uma mulher incrível, além de inconscientemente forte para aguentar tudo o que veio com a doença, num "lar de loucos", tendo apenas a companhia das borboletas como companhia, e as lembranças de um passado que era suficientemente bom de se viver, mas que foi pausado pela descoberta triste e abaladora notícia.
Sobre o Miguel, posso descrevê-lo aqui como livre. Sim, liberdade e confiança. Essas foram as características que mais despontaram, além de ser turrão e implicante — as características que mais irritam nossa borboletinha. Ah, ele também é lindo, só para frisar. (Foco, Davi, foco).
Numa nuance de dor, sofrimento e várias borboletas para distração, ainda posso citar uma ação maravilhosa da autora — por meio do Miguel —, que funciona como um grande meio de ajuda para os leitores da obra, assim como também um meio para saber mais sobre alguns detalhes da própria história (vide o segundo capítulo de "Consulta com Miguel"). As pessoas mandam seus problemas/perguntas e ele aconselha/responde.
Depois de tudo isso, mesmo de forma rasa (vai ler essa coisa linda, pelo amor dos deuses!), só me resta parabenizar a Desirée Nascimento por um trabalho tão lindo e tão iluminado que é Ensaios. Tenho certeza que além de retratar muito bem o contexto de tudo (a doença, os sentimentos dos protagonistas e os demais conflitos), ela inspira os leitores no cotidiano da história, que com certeza é feita com muito carinho em cada pequeno detalhe.
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